quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sem Moniz, como fica a TVI?

Onze anos depois de ter conduzido a TVI à liderança graças à mestria com que geriu a ficção nacional e a programação, José Eduardo Moniz, o homem que ousou trazer para a TV portuguesa um formato como o ‘Big Brother’, abandona a estação e o cargo de director-geral. Com Moniz na vice-presidência da Ongoing, poderá ele regressar à TVI? E como reagirá a estação, que no domingo, dia 9, obteve a pior audiência do ano, perdendo a liderança? Haverá alguém no canal com perfil para dar continuidade ao trabalho de Moniz?
À falta de substituto imediato, as funções de Moniz são assumidas por Bernardo Bairrão, administrador delegado da Media Capital (MC) e antigo homem forte da NBP Produções, que faz questão de as partilhar com Luís Cunha Velho, um dos primeiros funcionários da estação de Queluz de Baixo, e João Maia Abreu. O primeiro vai dirigir a programação e Maia Abreu continua como director de Informação. Certo é que, segundo vários analistas, dificilmente a MC voltará a concentrar tanto poder como foi dado a Moniz. À Correio TV, Bernardo Bairrão explicou mesmo que 'ainda não está definido sequer se haverá um cargo semelhante, nos moldes em que era assumido por José Eduardo Moniz. Vamos Ver'. Quem duvida que José Eduardo Moniz tenha deixado de vez a TVI é Rui Cádima, docente universitário e crítico de TV, que interpreta os últimos acontecimentos como um 'avanço da Portugal Telecom sobre a TVI (Media Capital)'. Um cenário provável se a Ongoing Media, a quinta maior accionista da PT, comprar a Media Capital (dona da TVI). 'Moniz poderá voltar ao canal e continuar a geri-lo como membro de um conselho de administração da Ongoing, ou como delegado da Ongoing para a MC', explica. Mas se os destinos da TVI ficarem entregues a outra pessoa que não ao seu ex-director-geral, Rui Cádima acha que a estação vai ter pela frente 'desafios complexos' porque não vê 'ninguém' que possa fazer o que Moniz fez 'em termos de supervisão' e sobretudo no 'domínio da ficção'. 'O segredo da TVI era ter um bom gestor de conteúdos de ficção portuguesa. E esse gestor chamava-se José Eduardo Moniz, que lia guiões, escolhia actores, realizadores, guionistas... Moniz geria a cadeia de valor completa da ficção. Isto é muito difícil para qualquer outro profissional. Não há currículos a este nível. Mesmo pensando num profissional como Emídio Rangel, em termos de novela, ele limitar-se-ia a encomendar formatos ao Brasil. No caso de Nuno Santos [director de Programas da SIC] acho que não tem a experiência de um programador sénior', conclui o crítico de TV. As qualidades de Moniz, em termos comerciais, são também evocadas por Cádima, que considera o ex-director 'um mestre'. 'Na grelha ele sabia como combinar a programação com a informação e fazer contraprogramação, apresentar uma novela, condensar capítulos de outra... Moniz era um mestre neste exercício de captação e fidelização de públicos', recorda. Sem o seu 'supervisor e mestre', a TVI poderá perder qualidade, sentencia o crítico de TV que aponta para outro fenómeno: a recuperação da SIC, 'não por mérito', mas pelo abaixamento provável do concorrente. 'É natural que a partir de Setembro comece a haver fluxos de públicos da TVI para a SIC e para a RTP 1. Assistiremos a um maior equilíbrio de audiências entre a TVI, SIC e RTP 1', prevê Rui Cádima. Com a saída de José Eduardo Moniz da TVI, as suas funções ficam mais diluidas. 'Continuar a linha de trabalho de José Eduardo Moniz,' que deixou o 'canal programado para os próximos seis meses,' é a intenção anunciada por Bernardo Bairrão. Diz o administrador delegado da MC que 'todos os projectos previstos' estão em 'andamento.' Sobre a substituição de Moniz, esclarece: 'Em Setembro será apresentada uma solução que pode passar por outros cargos, outras funções. Tudo está a ser analisado', refere. Questionado sobre o regresso do ‘Jornal Nacional de 6.ª’, no dia 4 de Setembro, limitou-se a dizer: 'É provável que assim aconteça!' Maria Ana Borges de Sousa, directora de Comunicação e Relações Internacionais da TVI, diz que 'o trabalho está planeado. Não há razão para mudar a grelha e os projectos que estão em andamento. A perda de José Eduardo Moniz é emocional e profissional, mas o trabalho continua, há uma estratégia que se mantém e uma equipa de excelentes profissionais'. Na TVI, foi com estupefacção que muitos profissionais viram José Eduardo Moniz abandonar Queluz de Baixo. Lágrimas, beijos e abraços marcaram a festa de despedida do ex-director-geral. Sobre o futuro da TVI, as opiniões dividem-se. Piet-Hein, produtor da CBV, conhece Moniz desde que chegou a Portugal em 1994. 'Recordo a reunião em que ele decidiu comprar o ‘Big Brother’. Mostrei-lhe uma promo, ele apreciou-o e, minutos depois, adquiriu o formato. É também um homem que não esquece o trabalho das produtoras que fizeram sucesso e tem uma relação próxima com quem trabalha. Tem sempre uma palavra de incentivo', diz Piet-Hein. Já o autor e actor Tozé Martinho acredita que o ex-director tenha 'transmitido tudo o que sabe', sublinha. Confiante está Cristina Ferreira, apresentadora do ‘Você na TV!’. 'Acredito que há pessoas insubstituíveis e o José Eduardo é uma delas. Gostava de subir mais alguns degraus pela mão dele'. com I.F. e S.C.

JORNAL NACIONAL DE 6.ª FEIRA: MANUELA QUER REGRESSAR DIA 4

'Regresso dia 4 e não recebi qualquer indicação para alterar a linha editorial do ‘Jornal Nacional de 6.ª’, disse a subdirectora de Informação da TVI à Correio TV. Este bloco de informação, que segundo Cádima 'tem criado algumas angústias governamentais', foi severamente criticado pelo primeiro-ministro, José Sócrates. Manuela Moura Guedes doente, com uma cólica renal, garante que estará 'apta' em Setembro. Entretanto, vários jornalistas do jornal de 6.ª anteciparam o regresso ao trabalho.

CARREIRA: DAS TELEVISÕES Á ONGOING

Aos 57 anos, Moniz deixa a TVI para assumir a vice-presidência da Ongoing Media, sub-holding da empresa, liderada por Nuno Vasconcellos (foto em recorte). A Ongoing abrange áreas de investimento como telecomunicações, consultoria, imobiliário, banca e media. E detém 23% da Impresa (SIC, Visão e Expresso) e controla o Diário e Semanário Económicos. A Media Capital (TVI) poderá estar na mira da Ongoing.

MEDIA CAPITAL: RESULTOS NO 1.º SEMESTRE DE 2009

72, 4 milhões em receitas publicitárias

-13 milhões foi o que a área TV perdeu em receitas face ao 1.º semestre de 2008

19% de share registou a TVI no domingo, 9 de Agosto

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